domingo, 1 de junho de 2025

O que parece melhor

Amigos, somos amigos como ? Juntá-mo-nos aqui nesta encruzilhada e, confundidos sobre o caminho a tomar, celebramos em comum o nosso destino, antes de partirmos para ele. Nada garante que seguiremos o mesmo caminho. O facto de viajarmos juntos nada garante sobre a viagem. Sermos 3 ou sermos apenas 1 em cada caminho não lhe confere qualquer consistência. Será ? Tem vantagens caminharmos juntos e tem também, inconvenientes. Pode parecer à primeira vista que 3 têm mais força que 1. Pode sim. E até, se juntos permanecerem, unidos, mas não alienados, poderão ter mais chances de sobrevivência. Mas, se de três resultar uma maior fragmentação de quereres e desejos, pode ser o colapso rápido e inexorável. Nessas circunstâncias, ser-se 1 pode até ser bem mais  vantajoso. Sem dissenções, sem fragmentação é possível dar uma resposta mais assertiva e, se racionalmente válida e adequada, revelar-se a melhor opção. Onde se situa aqui, então, a democracia ? Pois, convido-vos a pensar...

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Sem Guarda

O mais incompreensível, que agora se tornou compreensível é a ausência da Verdade.  Muitos pensam que, não havendo uma Verdade então, tudo é válido e verdadeiro desde que alguém o faça acontecer. Mas, o que acontece com este posicionamento ? Podemos fazer explodir uma ogiva nuclear e, foi algo que aconteceu por efeito de uma ação de querer. Será um facto verdadeiro mas, não a Verdade. Um facto verdadeiro, seja julgado moralmente correto ou incorreto, fará sempre, parte da Verdade mas, não será nunca a Verdade. Cabe então perguntar o que é a verdade ? Ninguém sabe! É a única resposta humilde, responsável, racional e emocional. A verdade é como um modelo de triângulo perfeito. Algo que não existe na Natureza. Algo que a matemática e o pensamento humano conseguem equacionar e criar como utopia, utilizáveis à escala natural mas ausentes dela. A haver uma perfeição na Natureza ela não é sequer comparável à nossa capacidade de concepção. Isto não significa que tenha de haver deus. Essa é a resposta mais fácil para quem quer crer a qualquer preço. É com triângulos perfeitos que se medem áreas. Deus, poderia ser a perfeição matemática. Eu, não acredito nisso. Mas, sim, podia. A utopia é a perfeição. A perfeição é o que estamos condenados a perseguir sem nunca podermos alcançar. Parece ridículo? Pode parecer, até mesmo absurdo mas, não é. Se não houvesse um objetivo qual seria o objetivo? Se cada um tivesse e olhasse apenas para o seu projecto como seria possível construirmos uma sociedade juntos, com as vantagens e desvantagens daí supervenientes ?
Disse um dia, e muito bem, se a Verdade fosse apropriável rapidamente se tornaria numa arma de arremesso. É estranha esta contradição de se querer tanto a Verdade e, ao mesmo tempo, de haver tantas vantagens de não a haver. É muito melhor  ter um caminho a percorrer (por fazer) do que encontrar um caminho já percorrido (já feito e encerrado), embora, o já feito e percorrido também sirva de reserva estratégica de conhecimento para projetos futuros. Esta é a ideia de que a única verdade é não haver nenhuma. Mas, o homem, teve de construir os seus ídolos, os seus mitos, teve de ser honesto sendo desonesto, enganando-se a si e tentando enganar, a seu favor, a Natureza. Foi preciso sobreviver. Foi preciso construir um mundo com os outros  Foi preciso prescindir de um excessivo egoísmo. Chegámos com todas as virtudes e ou defeitos aonde chegámos pir que de certa forma, caminhámos juntos. Sózinhos não chegaremos a lado nenhum. Quem não entender isso pode sonhar com o Kaos que o espera. Uma das maiores virtudes destes novos tempos é a virtude convivencial, uma crescente raridade.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

É preciso amar a sabedoria

Não há receitas mágicas, credos infalíveis, realidades constantes, inteligência suficiente, circunstâncias perfeitas. Tudo isto é trivial, óbvio para incorrer num pleonasmo. Será? Será que até mesmo o tão óbvio atravessa a nossa consciência em cada imediato ? Óbvio que não. Nem o óbvio é óbvio para o que se diz ser óbvio e, no entanto, somos quase sempre crentes do óbvio, nem argumentamos. É o que é e, como Epicuro defendia, temos que nos ajustar ao que é, a realidade do que acontece. Ajustamento, que pode ter significado de adaptação o que nada tem a ver com conhecimento ou até,  talvez, tenha..Talvez nos adaptemos primeiro e conheçamos melhor a realidade à posteriori, pelo menos, na maioria das vezes. Mas se não é conhecimento será sabedoria ? Parece quase esquizofrénico, se é que não o é? Podemos ter sabedoria sem conhecimento? Estranho, não é ? Pensem lá?...

quinta-feira, 27 de março de 2025

Sobre os tropeções e atropelos

Amigo, se caíste levanta-te. Se, não te conseguires levantar, gatinha. Se, não conseguires gatinhar, rasteja. Se, não conseguires rastejar, estás morto. Mesmo que te levantes não tardarás a cair de novo. Não somos sempre-em-pé. Quando dormimos, fazê-mo-lo, quase sempre deitados. A posição, para a vida, só interessa em termos de velocidade. Rastejar é mais lento do que correr, andar ou saltar. Não somos Cangurus. Mas, somos mamíferos. Não somos kanicus nem gúrus. 
Quem mais alto sobe, tanto maior será a queda. Mas, para que interessa a gravidade nessa matéria ? Não vamos todos descansar eternamente para o mesmo lugar ? Qual o poder de saber mais isto, possuir mais isto, isto ser de melhor qualidade, ter mais audiência, etc? Poder desfeito num ápice como tudo o resto. Então, o que resta ? Ser digno ? Ser signo ? Ser hino ? Ser ? Ser, é falso. Nunca se  é plenamente. Nunca se deixa plenamente de ser até morrer. Ou seja, somos contradição até à morte, contraditória à nossa vida. De lembranças que não queremos até ao desespero de querer lembrar o que já não se lembra, viajamos perdidos no tempo e no espaço, entre as sombras dos conceitos e as clareiras vazias.
Por entre os pingos da chuva há que caminhar, umas vezes secos, noutras molhados. Não há outro modo de viajar. Boa viagem é sempre o mote do desejo. Deus me salve daqui, será o lema do acossado ou aflito. Na realidade, nem se viaja desse modo, nem seremos abduzidos para outras paragens. Está tudo dito.

sábado, 22 de março de 2025

Texto crítico

Imagem do Perfil
Primeiro, as máquinas não pensam pois não possuem autoconsciência ou sequer  consciência moral. Deveriam arranjar outro nome para o caso. Segundo, diz-se que elas pensam porque cada vez nos deparamos com seres cada vez menos pensantes, o que constitui um facto. Vejamos... Vocabulário cada vez mais básico. Incapacidade quase total de cálculo só  possível com o apoio da máquina. Sem vocabulário não há capacidade de relacionar conceitos e, portanto, de ajuizar. Raciocínio lógico só a máquina é que faz. Sem a faculdade do juízo, como se compreende ou analisa ou se sintetiza ou discerne ? É a geração mais bem formada de sempre ou talvez a geração mais inapta de sempre o que é verdadeiramente assustador  face ao futuro ? Óbvio, como em tudo, há exceções, mas estas, estão prestes a valer Diamantes face à sua cada vez maior raridade. Apoiados nestas realidades sociológicas junta-se um coro de mendecaptos que têm uma fé tecnológica, com base na ignorância, em tudo o que lhes parece moderno, chegando quase a constituir uma nova religião salvítica. Apetece dizer; continuem, continuem que vão bem!

domingo, 9 de março de 2025

A Catedral Inacabada

O objetivo de uma desconstrução não é destruir tudo quanto se nos apresenta produzido. Será mais como uma engenharia inversa. Gaudi exemplificou na sua catedral inacabada como se pode construir com um fim sem fim, qual metáfora do parafuso sem fim de Arquimedes...Construir sem fim e desconstruir revertendo...Ora, pode-se esperar também um início e encontrá-lo mas, também pode ser lícito encontrar um início sem início. Será ? Parece-vos estranho ? Por que não ? Pensando melhor... A catedral sem fim teve um início e poderá no entanto permanecer inacabada infinitamente. Algo a pôs em marcha e, enquanto houver, homens, paciência, espaço, persistência ela, permanecerá inacabada. Mas, teve de ter um início. Sim ? Ao colocar a 1 pedra ? Na mente de Gaudi ? Nos tetra avós do catalão? Reduz-se ao absurdo e voilá... Encontrou-se a verdade! Verdade ou atalho preguiçoso e conveniente ? A construção também pode a qualquer momento parar e será que alguém está capaz de o prever com certeza ou aproximadamente? Infinito é infinito mas, também, só existe porque como dizia e bem Protágoras, o Homem é a medida de todas as coisas, pois só ele criou o medir. Não foi a matemática que criou o homem mas sim, o contrário. Não foi deus que criou o homem mas o homem que criou a ideia de deus. O Universo existiria sem o homem? Sim, mas não teria ninguém para o reconhecer enquanto Universo.  Mas então quem o criou, qual a causa primeira de tudo isto ? Coloca-se a mesma questão do ovo ou da galinha. O início da Catedral. Vejamos... Um pedaço de luz chega-nos de uma estrela longínqua que já morreu há milhões de anos antes sequer de termos nascido. Faz-vos sentido ? Onde está o início ? Opiniões, aparências diria o Platão e que somos seres cheios de cópias das Ideias. A luz aparece, mas não é cópia de Ideia nenhuma. Nem sequer posso relembrar algo que existiria há milhões de anos antes de eu ter nascido e da qual ainda estou a receber emanações celestes. Platão estava errado neste ponto. Para ele, ciência era doxa, opinião,  não verdade. Tem razão. Ciência é verosemelhança não verdade.  Mas, quem sabe o que é a verdade ? Uma coisa é certa, a ideia ou conceito de verdade são criações racionais do Homem.  Podemos dizer, a Razão criou muita coisa estúpida. Correcto. A Razão guiada pelo Homem faz o que ele lhe dita ou refletidamente ou por impulso. A Razão planeia guerras e assassinatos tal como obras científicas,  filosóficas, artísticas e por aí fora. É por isso que, a Razão não se pode tornar o mito dos filósofos. Porém sem ela, o que seríamos e o que poderíamos esperar ?  Protágoras portou-se bem. Medida sim, de tudo e para tudo. Tudo o que não for medido é incomensurável o que é diferente de imensurável. À questão qual o início do íncio ou ou fim do fim poderíamos juntar a questão de saber que razão traz a luz à razão? É fácil responder a isto ? Não adianta virar as costas. Fechar os olhos não faz as coisas aparecerem ou desaparecerem. Ora bem, Gaudi respondeu a esta última questão. A Razão é uma catedral em construção (e também em degeneração que pode ser regenerada ) sempre inacabada.


Céu e Inferno



O céu e o inferno estão em nós. Deus é a força que nos move, que nos faz vencer a inércia em direção ao céu e que, nem sempre se alcança, uma vez que, ninguém deseja o inferno. Estar no inferno, cair nele nem sempre é evitável ou voluntário. Também, o céu, nem sempre é alcançável ou voluntário, apesar de ser quase sempre desejável. O desejo e a vontade podem apenas um pouco quanto ao sentido das nossas escolhas. É o pouco que nos cabe fazer, o pouco que baseamos no nosso ínfimo saber. Saber é pouco e, nunca é muito poder. Nem mesmo a posse do saber é decisivo para alcançar o céu. O imponderável faz a maior parte. Não é o acaso que manda mas, também, não é o mito ou crença na razão, por muita que seja a fé, que dirige os acontecimentos. Se fizermos más escolhas poderemos ainda assim ficar mais próximos do céu. Fazendo boas escolhas podemos inacreditavelmente aproximar-nos do inferno. No geral, no entanto, más escolhas trazem-nos desvantagens e boas escolhas potenciam maiores vantagens. O certo nem sempre é a adequação. O julgamento falha, não só, porque inadequado mas, também, porque a priori torna-se complexo revê-lo. A priori é ponto de partida e nunca de chegada. Revisão só a posteriori e, esta, pode ocorrer tardiamente, quando já a proação e/ou qualquer reação sejam irrelevantes. Há então que reorientar o sentido, realinhar a disposição, redobrar o esforço e recuperar a desvantagem em direção ao céu. A força é o movimento da massa em deslocamento que flui como lava incandescente, lentamente, quase incontrolável mas, sempre imparável até ao seu zénite entrópico. Não é outro ente. É matéria em transformação incandescente. Deus é o telúrico obrando à superfície do ser.

Ensinar a refletir sem refletir




Caminhava em direção à escola onde lecionava e pensava para consigo mesmo, como poderia ensinar os alunos a refletir se,  ele, como professor, nem sequer tinha tempo para refletir ?  E dizia para consigo mesmo, bem, até teria tempo mas, a vida, não é só trabalho e reflexão, são precisos intervalos, pausas, recreios tal como existem entre as palavras que, também, por vezes se calam. Processos, processos e Kafka na memória. Tanto controlo e rigor descontrolados! A máxima eficiência transformada em força de inércia. Os burocratas aos uivos clamando pelas estatísticas. Resultados, soluções, remendos, derivações, enfim!... Uma panóplia de infindáveis recursos usados para atravancar a vida em vez de a alavancar. Por isso, chama-se-lhe parafernália. Sobre a aparência de saúde o Homem está doente. As sociedades estão enfermas da vaidade pelas suas próprias obras.

Porque não somos as marionetas de deus

Se tu acreditas em Deus porque acreditas na Física ? Mas, a Física, não é uma construção humana, racional, com base no que consideramos serem factos materiais ? O que é a matéria ? Como se forma o espírito ?  E o mesmo, raciocínio não o temos sobre Deus ? Quem é ? Como o estabelecemos ? O que o distingue ? Como podemos saber isso ? Entendes agora ?... Será a Física o percurso racional para tentar explicar Deus, deixando a fé, como fenómeno irracional, ser uma crença irracional pelo indemonstrável, pelo verificável, pelo corroborável ?... Alguns dizem que a fé pode ser racional. Equívoco! Fé não é racional mas sim, apenas crença. Esperança que seja. Palpite sem prova. Fé é crença na crença, tão somente, sem qualquer outra evidência que não o acreditar em algo. Razão é bem mais humilde e complexa do que um simples crer ou acreditar. A razão é céptica (kanicus) à partida. Demonstra? Exemplifica? Corrobora? Certifica? Garante ou então, não?! Crer só por crer é fé, nada garante, excepto a fidelidade sofismável a ela própria, em suma, "eu creio"! Essa firmeza atitudinal, nada tem de evidência no seu concreto, excepto se for apoiada por factos. Pois bem, o que é um facto ? Questão  complexa e racional. Se Deus é um facto, então tem de preencher certos requisitos para o ser. Quais são eles ? Quem os estipula ou postula e como ? É Deus que narcisisticamente se postula a ele próprio, ainda para mais, através de um intermediário, considerado menor ? Não acham isso suspeito ? Deus querer ser reconhecido por uma sua criação (visão narcísica de adulação dele próprio através da sua criatura servil e menor), sua criatura diminuída ( com mácula, defeito, castigo físico e/ou moral ) para glorificar a sua divindade ? Não acham isto, ridículo? Fantasioso ? Não acham isto uma construção racional defeituosa em si mesma ? Se crêem em Deus então, não precisam de razão, nem de ciência. Para quê ? Deus, já decidiu, já resolveu e vos guiará como marionetas, como criaturas submissas às leis determinadas pelo seu ser único, o ser perfeito, supra natural, supra racional! E, assim, chegamos à ditadura e à questão:  para que é preciso pensar ?  Para que serve filosofar ? Deus explica e, se não explica, assim dispõe, decide, quer e obriga, forçando todo o universo (determinístico porque previamente determinado) a curvar-se a sua alteza real. Pois é... O mundo parece-se algo com isso ? Não, francamente não! Se acham o contrário é melhor reverem a arquitetura dos vossos conceitos e dos vossos juízos. 

Nem é difícil






Graças a deus sou ateu! Por que começo com esta frase ? Primeiro, cultura, linguagem cristã. Temos outra ? Aqui, não. Graça, deus, até ateu se referem a deus e à linguagem teológica a que estamos presos. Deus é um modelo, diz-se, para os crentes. Para um ateu, um simples modelo ou abstração, sem mistério, absolutamente funcional e humano. Daí a ajoelhar ? Que ajoelhem os iconoclastas! Não sigo centralidades! Não há centro mas, centros. Não há esfera mas, esferas e estas, oscilantes ou em movimento produzem uma mão cheia de excentricidades. Elipses, parábolas, etc.Referencial ? O filme Ágora. Ateu ou atheos ? A Theo ? Claro, não sou Van Gogh das palavras. Teo, deus. Não, não há! Derrubar uma mentira com milhares de anos, é obra! Há sempre continuadores acerebrados. Sim, sem cérebro. Eu, a teu, ateu, ou seja, sem deus. E sou a teu, por que nunca serei teu ou de ninguém, pertença, biscoito, galhardete de ti ou de alguém. Pertenço-me a mim ? Não sei quem sou ou a quem pertenço. Sei que sou assim, pertenço a mim. Um reino meu que não é pertença de mais ninguém. Propriedade ? Não. Dizem, tenho herança genética e cultural. Herdei muita coisa que não me pertence, para a qual não sou digno merecedor. Mas, herdei e, no entanto, não me apropriei, mesmo usando, mesmo banqueteando-me! A vida é farta. Luminosa. Pródiga.

A LEI DO 'FURÃO'

Van Gogh
«Quem me dera ter poder para fazer todos felizes, desde que, essa felicidade também não me matasse?! Mas...Se calhar, estou-me queixando defendendo um imaculado que eu não sou nem eles nunca foram e, não forão. Amigo sou, serei, sofrerei se necessário mas...A vida só darei por alguns.»[noético-09/10/2014]







E se de repente...

De repente surgiu algo determinado de encontro a uma disposição que apanhada de surpresa  mas determinada na sua forma tem de se ajustar a esse novo contexto de determinação. A resposta adaptativa estaria pré programada por antecipação ? Então não haveria evolução genética ou esta seria apenas fruto de interferências predeterminadas ? E, por outro lado, com esses mesmos determinados ingredientes  será que geraria sempre em cada disposição sempre a mesma padronizada reação, como se as rochas se deformassem ou erodissem sempre do mesmo jeito ou, os seres humanos reagissem todos da mesma forma ? Quem reduz tudo à fractalidade equivoca-se. Sabemos da nossa tendência à simetria, porém, tendência,  não é fatalidade ou destino pré programado. A busca de padrões também poderia ser um constrangimento determinado o que limitaria fortemente a ciência. E será que não a compromete  seriamente? Temos outro meios não determinados de conhecer ? Mas, se tudo está condicionado, quer as causas, quer os efeitos estão viciados e conhecer limita-se a um mero constatar e quanto ao prever seremos simplesmente demasiado limitados na projeção dos antecedentes em direção aos consequentes. Mais baralhados ficaremos se invertermos a seta do tempo. Ao que parece recebemos luz do passado como se viesse do futuro. Incrível. Então até o futuro está programado. Ou será que não existe futuro algum ? Como compreender isto ?
Não estamos aqui apenas a clarificar conceitos. Estamos a problematizar a questão. Temos, porém, de ser concisos e claros. Temos ? 

SOBRE O LIVRE ARBÍTRIO



Aquele que se emociona, que sente, que pensa, que age e interage, que se responsabiliza, tudo num só, quem é ? Será que estamos no controlo de isso tudo ou somos completamente comandados por forças interiores e exteriores que nos ultrapassam ? Ou tomamos essas forças que não controlamos e as dirigimos e/ou orientamos num sentido que nos permite pensar que somos uma entidade única, a principal, ainda que não singular,  responsável da nossa biografia ?  E, se tudo isso não passar de uma ilusão e até esse sentimento de controlo for também fruto da energia que nos percorre ? Será que a natureza está pré programada para produzir uma sinfonia de Mozart ? Será que a natureza está programada para nos conduzir até à lua ou até marte ? Será que a natureza está determinada a produzir deuses ou quaisquer outros seres espirituais ? Será que é a natureza que produz todas as filosofias ? Para Espinosa, sim. A natureza é tudo. Tudo é manifestação da natureza e não há separação entre corpo e alma porque tudo brota da mesma fonte, estilo Lavoisier, na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. A essa ideia, opõem-se os dualistas platónicos, que defendem que corpo e alma são duas substâncias distintas. Uma física e a outra metafísica (para além da física), como uma ideia que é algo que não se consegue agarrar, podendo ser gravada na memória ou em qualquer outro suporte enquanto escrita mas que não é possível capturar. É possível transmiti-la mas não tocar nela. Sem corpo material será que a ideia subsistiria ou até se produziria ? Ainda hoje se discute esta questão. Uma coisa parece certa, a cultura é fruto de todas as flutuações da matéria humana mas, não parece haver uma única e universal biologia totalmente comum e pré programada. Mesmo com as enormes repetições históricas dos vícios e virtudes humanas não é possível prever a História do futuro. Ou a ciência ainda falha neste capítulo ou então haverá sempre escolha humana. Também a interação de cada ser com os outros seres, ao longo da sua biografia, interfere de modo não pré programado na resposta individual de cada ser e na futura cadeia de interações desse ser com o coletivo dos outros seres. Também aqui é difícil identificar as causas e deduzir as consequências. Mais uma vez a ciência falha e, quanto mais tenta explicar mais parece haver por explicar e para prever. O que pretendo dizer com isto é que talvez a ciência não consiga demonstrar que temos ou não temos livre arbítrio. O certo é que o determinismo radical, chega a ser quase não científico ao propor que tudo está pré determinado excluindo qualquer hipótese de progresso do conhecimento científico ou reduzindo toda a vida humana a causas e efeitos numa perspectiva muito behaviorista e reducionista, estilo estímulo-resposta do ser humano. Somos muito mais que o fruto de causas e efeitos e, mesmo sem opções divergentes podemos sempre escolher decidindo não escolher ou, talvez, sejamos simplesmente determinados à escolha o que não significa determinados a determinar a escolha.


É estranho

É estranho ser assim
Deste modo e não de outro
Não sou o que aprendi
Nem sequer  o que esqueci
E, permaneço igual
Todos os dias diferente
Assertivo e perplexo
Sem fiel e sem balança
Estático e oscilante
Num rumo indefinido
Marcado pelo desejo
De nada mais desejar.
Porque nem o que se deseja
Se consegue captar.
Cativo do impermanente 
Livre, no inconsistente
Prefácio e epílogo
De um livro inacabado.
É da Terra ser-se enterrado
E da Vida ser-se emprestado.


O Antropocentrismo será um fatalismo?

O androcentrismo pode ser ou não um fatalismo. De facto não existe outra forma de ver o mundo senão a que é construída pelos seres humanos. A nossa empatia e compreensão para com outros seres é ela própria imaginativa e  antropocêntrica. O mundo, a realidade que construímos nos lugares que percorremos e habitamos são construtos de um Antropos. Protágoras tinha razão, o Homem é a medida de todas as coisas, até de Deus. Nenhum outro animal seria capaz de o fazer por si senão o Antropos. Podemos dizer, a ciência alcança de outro modo, vai para além dos nossos sentidos. Sim, mas quem faz a ciência sem ser à sua medida e criando outras métricas ? Quem conhece sem ser à sua medida ? Sem comparar à sua escala, sem submeter ao seu tipo de inteligência, entendimento e compreensão ? Se não fosse assim, seríamos alienígenas na nossa própria mente, corpo e mundo. O único fatalismo é o enviesamento de assim sermos e pretendermos pensar o contrário.

Os cépticos têm alguma razão para se pronunciar ?

Partamos da tese de  que os cépticos têm razão e de que nada conhecemos. Porém, para quem nada conhece, as elocubrações mentais criadas, os construtos, parecem descrever, relativamente bem, o mundo real e, permitir ao homem intervir de algum modo, responsável, pelas suas ações e intervenções. Este, é o paradoxo. Como é que as nossas crenças estão todas erradas ? Seria ou é, como se a ficção se ajustasse, pelo menos, dentro de certos 

moldes, funcionais, à realidade. Ninguém sabe o que é zero, ou um número imaginário ou, até mesmo, um triângulo equilátero. E, no entanto, não saberíamos descrever ou prever, a realidade, com tanta exactidão, sem esses instrumentos. É estranho, muito estranho. Por outro lado, dizem-nos, alguns  neurocientistas, que o cérebro é que cria a ilusão da realidade. A questão é então, esta: Se o cérebro é que cria a ilusão da realidade, também, é ele que cria os métodos e instrumentos de medição que permitem manipular e prever com relativa precisão essa mesma ilusão sem que, com tal, surjam acidentes e eventos caóticos causados pela inaptidão humana. Estranho, novamente. Para mim, este argumento, basta, para derrotar o determinismo neurociêntífico. Se captamos tão mal a realidade como podemos tanto sobre ela ? De que equívoco falamos ? Dirá o ceptico, conhecemos a ilusão não a verdade. Pois... Como é que sabemos melhor o que é uma ilusão e menos o que é uma verdade acerca da realidade, dita, fantasiada ? É possível pensar que nada se conhece, sem se pensar ou sem se crer no que se pensa ? Pois é... Quem sabe ? O céptico ?

Imperial



Ser Jovem, Todo o Terreno.




Bem...Já fui jovem e, lamento, não vejo nada de jovem, nos jovens de hoje. Parecem-me, ou meros papagaios do que ouviram outrora, ou seres esquisitos, sem a menor curiosidade intelectual (salvo os que a têm), ou seres derrotados à partida ou à chegada mas, sobretudo, sem ideias, sem conhecimentos, sem soluções e, cheios dos mesmos entusiasmos e sonhos que, nós, também, ou só alguns, tivémos.
Ser jovem deve ser mais uma das profissões mais antigas do mundo. Todos depositaram esperanças nos fieis depositários. Muitos, já cá nem estavam, quando essas esperanças se concretizaram ou goraram. É a vida! Hoje, ao ver um jovem "JOTA" falar na sua própria crença em si, pareceu-me mais um padre a vender um dogma, estilo, creiam em mim. Lamento, não ser condescendente! Creiam em mim, é digno de quem quer demonstrar tudo, sem nunca ter hipótese de ter provado nada ou quase nada. Precisa-se de crédito para crescer! Sempre! Apostar, não tem de ser uma cegueira e, pode, até, ser a melhor solução. Nada se faz ou existe, sem risco! Viver é um risco! Morrer é uma certeza e uma verdade. Jovens todo o terreno ? Aqui, vacilo. Aqui direi, há cada vez menos! Desacredito. Cada vez estão mais "geração biberão"!  Sem pais, ou velhos, não dão uma para a caixa! Sujar sapatilhas, fatos ou a pele ? Chega de falsas promessas. Falta a energia para sofrer, a tolerância à dôr, sem se ser masoquista! E quanto às provas, só falta, elas, serem realmente dadas! Aí, o discurso será substituído pela consomação e, aí o júbilo terá, finalmente, a sua real ocasião.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

A próxima fé!

Tenhamos sido bons ou maus, ricos ou pobres, bem ou mal sucedidos, com melhor ou pior saúde, quase todos nós teremos um dia que enfrentar a dor, antes da morte. Quase ninguém escapa a esse sofrimento. Prémio ou castigo, ninguém sabe. O corpo definha e cobra ao espírito esse preço, como se, de uma vingança se tratasse, não o sendo, no entanto. Habitaste-me agora, morres comigo. Irás sofrer. Que destino tão belo que deus nos traçou. Fomos uma criatura sujeita aos seus desígnios ou caprichos e fartamos-nos de sofrer, dizem, para a nossa purificação. O certo é que, ao que parece, fomos criados com defeito, caímos em pecado por causa de termos usado um instrumento que deus nos concedeu e para o qual não nos habilitou. Então, para quê que deus nos dotou de um instrumento que não sabíamos utilizar ? Andou a brincar connosco ? Fomos ou somos o seu divertimento ? Perdoem-me mas, só idiotas acreditam nisso. Não é certamente esse deus. Mas, então qual ? A vida continua a ser igual para o homem independentemente de qualquer que seja o deus adotado. Das duas uma, ou não sabemos explicar o que seja deus ou tudo não passa de uma medíocre invenção, ou de um ardil para nos subordinarem  ao poder de certos homens. Lembram-se das monarquias absolutistas ? Os clérigos funcionam quase na mesma base. Sofreremos todos para remissão dos pecados devido a uma criação defeituosa do próprio deus ?  Bem, outrora e ainda hoje, em certos lugares se, dissermos estas palavras somos considerados blasfemos e heréticos, criaturas quase satânicas. Para eles só há céu e inferno, deus e satã e mais ums anjos e pequenos demónios. Tido muito maniqueísta. Ou preto ou branco ou cinzento ? Pois, o limbo foi abolido tal como dantes foi considerado. Nota-se as certezas que têm sobre essas ditas realidades fantásticas. Qual é então o problema? A ameaça que representamos para as suas mentiras e doutrinas enganosas. Até poderia haver eventualmente Deus mas, certamente não é o que eles defendem ou teorizam e nem nós sequer conseguiríamos explicar. Porém, se Deus estivesse para além da nossa compreensão e entendimento, como saberíamos alguma vez que existe identificável, e até, como conheceríamos a sua palavra ? É muito contraditório e muito duvidoso. Entretanto, também, igualmente possível seria não haver deus algum, algo bem mais fácil de explicar e/ou demonstrar por absoluta ausência de provas concretas ou abstratas da existência de deus. As únicas provas advêm do testemunho de humanos que acreditavam nessas entidades supranaturais e dos seus acólitos convertidos a essa ordem imaginária dogmática que nunca findou de se reproduzir para perpetuar o poder de alguns homens sobre outros. Daí que, as tiranias ainda hoje ocorram. As doutrinas de pensamento único baseadas em factos imaginários ainda proliferam com muito sucesso por aí. Falta só criar ainda a religião do unicórnio-deus.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Pensar bem ou mal e não pensar

Pensar bem o que é ? Bem, não há nenhum pensamento perfeito. E, também, não há nenhum pensamento sem sujeito. É impossível um conhecimento puramente objetivo nesse sentido. É o sujeito que conhece. Mas, ainda que não consigamos definir com um critério rigoroso e objetivo nenhuma valorização válida, temos todos que reconhecer que há patamares (prefiro, em vez de graus) de proficiência do pensamento. Ora, haverá patamares muito inferiores e outros muito superiores. Em quê e como ? Irei falar do que constitui os patamares, os graus. Graus de quantidade e qualidade de recolha de dados. Graus de coesão e relacionamento entre esses dados. Graus de tratamento/análise desses dados de modo a constituir informação relevante para qualquer determinado fim ainda que hipotético. Graus de enquadramento de cada realidade. Graus de adequação da informação à realidade. Graus de reanálise da realidade e da adequação da informação a essa reavaliação. Haverão mais situações mas, não iremos ser exaustivos relativos ao quê. Como ? O Como tem a ver com o modo e a modalidade. De que modo se pensa ou se pode pensar ? Há sempre um sujeito e um objeto, uma relação e uma ou mais finalidades envolvidas. Uma das finalidades é a conformidade ou adequação. A relação pode ter variadíssimas vertentes e disposições. Pode ser mais lógica do que emocional, pode ser o contrário, pode ser um equilíbrio entre as duas, mas terá sempre que conformar-se a uma ideia ou a uma realidade. Porquê esta distinção? Porque uma ideia pode simplesmente significar um fim imaginário. Uma realidade pode ter essa modalidade, mas, referimo-nos, neste caso ao mundo físico e à nossa adequação/adaptação a ele. Podemos adaptar-mo-nos de modos diferentes mas, certamente, alguma disposição sobressairá sobre outras adaptações numa realidade em constante mudança. Óbvio que uma realidade tem inúmeras modalidades possíveis e até talvez inimagináveis. Então, temos um Como muito complexo. Há quem confunda confuso com complexo. O sujeito pode confundir-se. A realidade é o que é, ou seja, o que se depara ao sujeito e, também, em parte, a forma como ele a interpreta. A forma como cada um interpreta e interage com a realidade é múltipla, diversa, com alguns laivos susceptíveis de padronização mas nunca uma forma única e absoluta e/ou imutável. Bem, já refletimos um pouco sobre o pensar bem ou mal. E, quanto ao que designamos como não pensar ? Bem, ninguém na realidade conseguiu alguma vez o Nirvana, embora, alguns, adorem ser adorados por dizerem tê-lo alcançado. Mas, não era a este sentido de suspensão do pensamento que nos referíamos. Talvez, possamos chamar-lhe apenas pensamento reativo. Porquê? Por que não é um pensamento proativo, minimamente fundamentado, situando-se quase no domínio do caótico e das relações básicas entre preconceitos, podendo os fins serem efetivamente reais e concretos. Este é o não pensar. Independente da disposição, ao sabor das emoções, caoticamente organizado, umas vezes lógico, esporadicamente, outras vezes, quase um pre pensamento humano, cheio de força mas sem direção ou sentido. É um tipo de pensamento não tão incomum entre os homens ditos "sóbrios". 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Bem, não é bem assim...

Verdade. Questão muito complexa. Porquê? Há que avaliar a sua pertinência, a sua adequação, a sua conformidade, a sua sincronicidade, etc, ou seja, todo um mundo de imprecisões. Mesmo quando estes e mais fatores podem ser praticamente quase quantificáveis há sempre uma métrica marginal que se nos escapa. A nossa aproximação é laboriosa mas sempre precária. A verdade foge aos nossos modelos, talvez, demasiado perfeitos para exprimir qualquer realidade. São os nossos parâmetros, demasiado intransigentes que apenas se adequam parcialmente à realidade. Aqui ou ali, os modelos encaixam-se na realidade com perplexidade mas, logo a sincronicidade falha. Ora, a verdade, não pode ter a plasticidade do tempo todo, nem é passível de estabelecimento parcial. Em suma, como procurar a verdade se, não temos ideia do que ela é a priori ou se, estabelecemos restrições ou métricas consensuais ou aleatórias para a sua captura ?

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Um Cro-magnon Informado

Leia-se um capítulo de Proust, Aristóteles, Séneca e, reflita-se, na pessoa que somos, no que temos capacidade para fazer, na forma e no alcance do que pensamos, na precisão do que escrevemos. Se, formos humildes, certamente,  sentir-nos-emos pequeninos anões, pó das estrelas, em matéria de elegância e solidez de inteligência, face a essas figuras do passado, que até hoje, nos ensinam. Ao comparar-me com eles, sinto-me um Cro-magnon Informado. Afinal, tanta informação, não me trouxe maior lucidez, maior sensatez, maior sabedoria. Quando me vejo entre os homens comuns de hoje, empoleirado numa gravata e num canudo de um curso qualquer superior, percepciono a mesquinhez desses nossos ensaios no ridículo. Titubeantes e indecisos ou cegamente decididos, oscilamos como velas ao vento, num marear obtuso e incoerente, sem rumo nem projeto, arrastados pela vida ao sabor das correntes.

sábado, 12 de outubro de 2024

A CAVERNA É A BOLHA

A caverna é a nossa bolha, a nossa ilha, o nosso círculo de verdade, a nossa rede social, a nossa ignorância. Dentro dela, vivemos acorrentados uns aos outros, numa cacofonia ruidosa que ilude ser um diálogo, presos às nossas crenças comuns, que são sombras, aparências, sem nunca nos questionarmos se estamos certos ou errados ou se existem outras realidades que desconhecemos e que, por vezes, outros, poderão partilhar connosco. O conhecimento comum, trivial, conformado e aparentemente consistente, não deve pois, obliterar o pensamento ousado, questionador, que busca e procura transcender-se e ampliar-se. As sombras não se extinguem enquanto não se extinguir o fogo desse inconstante desejo e dessa profusa emotividade que projecta e distorce o real e o converte em sombras e ruídos, não deixando penetrar a luz, o lúmen da razão que clarifica, delineia as formas, ordena e constrói de acordo com a dinâmica de um mundo vivo e real, onde o homem se torna homem, se liberta dos grilhões da ignorância, se autonomiza e, se transforma num ser moral, responsável pelo seu arbítrio e pela sua práxis. A caverna está por todo o lado e em todo o lado, mesmo quando, cegamos deslumbrados pelo conhecimento que, não é, nem de longe, nem de perto, a verdadeira sabedoria.

sábado, 31 de agosto de 2024

O Grau Zero

Confunde-se muita vezes conhecimento e sabedoria. Quem pretende, erroneamente, fazer da filosofia um modo de busca de conhecimento, encontrará nela, certamente, uma panóplia de nomenclaturas criadas a pretexto da sua sistematização. Viciados nesta sistematização, confunde-se toda a filosofia com os conceitos, de que ela apenas subsistiria ou então, com a própria ciência (doxa) como forma de sobrevivência sob ocultação por detrás dela.
Pergunto, onde e quando se filosófa ? Sim, é certo que a filosofia se exerce pela razão mas, também, pela práxis. Já se esqueceram os filósofos de como ela nasceu ? O que dizer da filosofia do Jardim ou da antiquíssima Skolê que não tem nada a ver com os atuais programas de ensino e a escola actual ?
O verdadeiro exercício do saber filosófico resume-se essencialmente ao questionar e ao progredir nesse questionamento, incessantemente, como forma de aprender e aperfeiçoar a arte de pensar com vista ao viver, ao saber viver e à sabedoria como cúmulo do saber viver melhor ou de modo mais sábio e inteligente, na posse e uso máximo das nossas faculdades da razão e a sua proficiente aplicação à práxis.
Dir-se-á que, a crença exacerbada na Razão, sob a forma de uma prepotência intelectual arrogante e fanática causou a quase catástrofe ecológica atual. Faço uma leitura diferente. Não houve nunca um abuso do uso da Razão, pela humanidade, pelo contrário, a coberto de um pretexto uso da Razão nunca se agiu tanto contrariamente a ela e, nunca se agiu tanto e tão sistematicamente de modo irracional. O mal não adveio da Razão mas do seu pretenso, mas falso, bom uso. A ilusão do bom uso da razão não se pode substituir ao verdadeiro uso de uma Razão que não se reconhece a si mesma como hegemónica, nem soliloquial, e que, antes pelo contrário se descobre ínfima no seio de um mundo polissémico e desordenado. Ordenar para compreender não significa subjugar o concreto a uma ordem racional, nem utilizar a ordem como teckné manipuladora do concreto com vista à sua modificação exploratória sem avaliação das suas consequências e subsequentes rectificações racionalmente justificáveis.
O conhecimento é um construto humano. O conhecimento não é tudo. O amor "filo" à sabedoria "sofia"  revela e exige um cuidar pelo "ethos" do saber, um velar por ele num mundo, o que constituiria o pleno uso da Razão. Ora, o que se tem visto proliferar não é isso. O uso desenfreado de uma razão amputada de um ethos, isso sim, é o que se tem verificado. Temos vivido guiados por uma razão manca que não se reavalia e que apenas avalia. Não podemos passar sem a Razão mas, será que sabemos viver com ela ?
Ao falar dos programas de filosofia no ensino, exprimia este questionamento. Será que estamos realmente a ensinar a filosofar ou a pensar e pensar bem nas nossas escolas (recuso-me a escrever com letra inicial maiúscula) ?

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Em favor do silêncio

O motor imóvel. O que move e não é movido, excepto que é movido a mover, não é verdade ? Mas, se não é movido a mover porque move ? Tem de agir para mover. Será deus um paradoxo ? Pode um paradoxo constituir uma prova argumentativa ? Não. Pode resultar de uma demonstração argumentativa ? Sim!

Ora, o que move e não é movido é causa primeira de tudo que se move. Se é causa provoca um efeito. Todas as causas provocam um efeito e este efeito é causa de outros efeitos ad infinitum. Mas, se assim sucede, uma causa tem de ter outra causa que lhe antecede, ou seja, uma origem. Nesse caso não haverá causa primeira e existirão também causas originárias e não originais, ditas "primeiras", antecedentes, também ad infinitum. Ora, isto não parece razoável.

A necessidade versus a contingência ou os acidentes. A ideia de um substare ou substrato advém de Aristóteles. Há coisas ou qualidades permanentes e outras impermanentes, contingentes ou acidentais. Segundo o filósofo o permanente seria o palco que susteria os acidentes e, sem os quais, estes últimos não se dariam. Estilo, a estabilidade é o garante da impermanência. Vejamos... Um objeto diz-me sem cor porque a quantidade de luz absorvida e reflectida varia e os órgãos dos sentidos que a captam interpretam de modos diferentes. Primeiro, o objecto varia no tempo tal e qual como a luz e a fonte da luz que é outro objeto. Portanto, qual é o permanente aqui ? A mudança, como diria Heráclito. Ora, será possível que, no meio de tantas mudanças, não possa haver um ou mais momentuuns em que, quer o corpo iluminado, a fonte que ilumina e o corpo que percepciona se repitam ao coincidir ? Será impossível que tal aconteça, estilo, uma capicua, 222, 333, etc ? Ou seja o corpo está num momento de repetição, o ângulo e a frequência da luz também num momento de repetição e a fonte o mesmo ? Um alinhamento  triplo repetido. Possível é. Aliás, para quem acredita na "substância" no "substare" não é difícil pois, é nisso mesmo que acredita. Porém, aqui, o mundo está invertido. Os acidentes é que permanecem e as condições de repetição é que constituem o acidental, o raro, o fortuito. Ou seja, a substância é impermanência e os acidentes é que permanecem. Não é isto, contraditório em si ? Pois, parece-me que sim  e, no mínimo paradoxal. Não podem ambos os argumentos serem verdadeiros. 

E, poderíamos seguir por aí fora na desmontagem dos argumentos de Aquino.

Em resumo, crê quem quer crer e, muito provavelmente, constitui um exercício espúrio tentar provar a existência do não existente.

O que é o desconhecido? É vasto e ninguém sabe. O que é a morte ? Ela existe e ninguém sabe! Quem será ou serão deus ou os deuses ? Ninguém sabe! Haveremos de os inventar como às sereias e aos unicórnios. Do que podemos falar e conhecer ? Do que acontece e da vida.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Máxima

Os direitos civis, sem reflexão crítica, adormecem e confinam os homens à sua própria escravidão.

Tardiamente

Chega uma hora em que apenas esperamos que os acontecimentos da natureza evoluam a nosso favor, tudo apenas, porque há muito tempo nos divorciámos dela e, como seres conscientes, tememos as consequências dessa nossa atitude precipitada.O controlo é ilusório, a consciência é mínima, a necessidade imperativa, a construção provisória, a vontade esperançosa e o conhecimento fragmentário, de modo que, só nos resta a humildade e o espanto, mais do que o prazer e a dor, a alegria ou a tristeza no meio de tanto encanto e desencanto.Se as coisas são como são, afetam-nos de um modo em que elas não são, mas sim no algo em que se tornam pela nossa compreensão. Podemos saber coincidir assim como mostrar diferença por comparação, nuns casos atendo-nos noutros excedendo-nos, sem que nunca esse vínculo seja definitivo. Declarar seria se, de tudo o que é dito surgisse maior claridade, tal como, diferenciar o "juntar" do "somar", não se limitando a discorrer sobre o óbvio.Quantas e quais células transportam um pensamento ? Quantas e quais formam um conceito ? Não há pensamentos sem células, sem moléculas, sem átomos, sem partículas, sem energia, sem Universo e, muito menos (como pescadinha com rabo na boca) sem pensamento. Poetizando, pensar é quase como um produto de fabrico químico, incontrolável na sua génese, para qualquer humano. O livre arbítrio será como uma corrente químico-eléctrica emergente entre múltiplas correntes que lhes confere uma orientação ou ordem cuja origem pode até ser um núcleo ilusório chamado sujeito, como se as marginais correntes das marés é que lhe delineassem os contornos mais ainda do que as areias de uma praia. Uma espécie de princípio de impulsão de Arquimedes mas no eixo horizontal (para compreensão) e em múltiplos eixos, na concretude.  Tudo isto, já estava inscrito no Tao. Fazer do Tao uma religião é perder-lhe completamente o sentido. A insuficiência das línguas e o seu cada vez maior atrofiamento não permitem diferenciar o sagrado do sacralizado. O Sagrado, não é Deus. O sacralizado é! Sacralizado é como a cristalização de um mineral. É o advento das ideologias que, por serem prolíficas e daninhas, ocupam todo um vasto espectro do espaço-tempo, parecendo ser, ou prometendo ser, a revelação ou a salvação. Sagrado é, outra coisa. Não envolve nenhum ser parasitário â mistura, nem é evidente como revelação e muito menos salvação. O Sagrado não se revela, respeita-se pelo entendimento. Não se venera, simplesmente, não se profana. Não nos salva, apenas nos desperta aonde estamos a cada instante.É preciso ter olhos para ver para além das imagens e do imaginário. Nada é sobrehumano ou inatural. O Universo é natural. O homem que ama e que mata é natureza. Há que aprender a pensar entre as palavras e escapar ao eflúvio de falsas erudições murmurantes e ruidosas. Não acredites no Sagrado, encontra-o!

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Reflexões

Os meus botins, que trago calçados, fazem-me lembrar os teus sapatos de atacadores azuis, que foram os teus últimos. Pensava há pouco, ao avistar um pequeno ser de guarda-chuva, graciosamente caminhando, nas saudades  que sinto. Estou aqui, ainda, rodeado da prateada beleza do Mar, vista sublime do Oceano. Tantas horas solitárias, tantos sonhos frustrados, tantas esperanças, tantas horas sem sentir o prazer de compartilhar. Só caminhei, só caí, só me  ergui mas, só, nunca foi a minha natureza. Mar, ventos, sol, nuvens, tempestades... Fui salvo pela agrura dos elementos que sempre me despertaram ou tornaram sonâmbulo caminhante por entre os vivos.

Mudança de Paradigma

Não sabia se iria viver ou morrer. Fiz o meu balanço. Nada a arrepender.  Preparei-me para partir. Não morri. Que medo, agora, de viver!?

Sem livre arbítrio não há ciência

Eu, fui aquilo que pude ser, enquanto fui alguma coisa. Claro, que não fui fantasma. Até, depois de morto, alguém se lembra de me ter visto, de me ter falado, de me ter aturado, de me ter amado. Faço da testemunha de outros, a prova de que existi, mesmo que, essa prova, se apague, pois, a memória, não é eterna, aliás, como tudo o que sabemos. Dirão os deterministas que estava tudo determinado, ainda que, mudando as múltiplas disposições, determinantes a cada instante, e que, portanto, apenas cumpri a minha natureza. Falso, nem sei qual a minha natureza foi, ou era. Não sei, mas, se assim estava determinado, deveria em vida ter chegado a saber. Nunca soube. Era ela que me controlava ? Claro que não. Uma coisa é estar com fome, outra, decidir fazer jejum. Claro, esta decisão não se pode perpetuar sob risco de vida mas, podemos, sempre, dentro das possibilidades que conhecemos ou, que consideramos disponíveis, escolher. Podemos perfeitamente jejuar uma refeição. O limite, foi a natureza determinística que impôs. A decisão foi o momentum do livre arbítrio. Se isto é traduzível em ondas cerebrais prévias, por favor, identifiquem os triliões de sinapses que dão origem a estas ações?... Ah, e até estava acompanhado com alguém com fome que se alimentou. Duas configurações, dois mundos, o mais razoável seria comer e, no entanto, eu preferi, apesar do sacrifício, não o fazer. Motivos ? Testar o meu autocontrolo. Belas ondas cerebrais. Agora, imaginemos o mesmo no cérebro de um muçulmano durante o ramadão. Pensemos que, o que lhe vai na alma é o cumprimento, devido à sua crença num voto de jejum. Devem ser outras ondas cerebrais com um desfecho semelhante. Tudo, determinado. Eu, por que decidi, ou alguma determinação desconhecida decidiu por mim, testar a minha própria natureza e, o muçulmano por que as suas crenças, também, todas determinadas, o conduziram à obediência ao código do jejum próprio da sua religião. Chega a ser ridícula, a opinião dos deterministas. Mais, ainda, dos deterministas ateus. Parece que defendem uma posição próxima da pescadinha com rabo na boca. Se não são livres, de escolher, conscientemente, então, são tão predestinados como qualquer crente quando acredita sobre o que diz a sua religião. Sucede, que, até nem mesmo a maioria dos crentes religiosos acreditam nesse modo ou disposição do universo, pré determinado. Por isso, ainda mais ridículo parece, haver cientista a defender estas posições. Escudam-se, claro, em Espinosa. Deus ou a Natureza. E, então, tudo passa a ser Deus. A Natureza é Deus e, a ela ninguém escapa, quais passarinhos, numa gaiola, criada por um vocabulário inventado por padres. E volta-se ao mesmo. Ninguém sabe de nada. Mas, Deus porquê ? Certo, o livre arbítrio parece uma arrogância. E é! É a única forma de subsistirmos, de nos rebelarmos contra a natureza, sendo Natureza. É uma rebelião que cria caos e ordem. Dela resulta a cultura, coisa criada pelos homens e pela razão ou inteligência humana para subsistir e até, atingir os píncaros de viver, acima do sobreviver. Um luxo da natureza ou que a natureza concedeu a si mesma, talvez, a maior falha ou rutura detectável no universo, a consciência e a liberdade (condicionada às disponibilidades) de escolher, mas, ainda assim, uma escolha, ainda que ela invoque energias determinadas para a sua execução. Pegar num curso de um rio e desviá-lo. Não estava escrito em nenhum lado, nem em nenhum Destino, embora possa sempre figurar no livro do mundo dos contabilistas probabilistas ou, diria, dialéticos ?  

Deixo-vos

Digo-vos, aquilo que já todos sabeis, sobre como viver, numa simples fórmula: superação na tristeza e na dor, harmonia no quotidiano e intensidade na alegria.

Método

Um método pode, durante um limitado período de tempo condicionar, não só os resultados obtidos e a obter, bem como, afetar a possível diversidade de abordagens que, poderiam, eventualmente, alargar, pelo menos, a expectativa de um maior ou mais vasto e amplo espectro de conhecimento.

Trilogia

Não somos santos, nem malignos, nem loucos. Temos dos três um pouco. Ainda bem que, por vezes, é muito melhor o não ser que somos do que, o não ser que supomos ser. Ser, portanto, não é a única razão de existir e, por vezes, existimos não sendo, tal como, muitas vezes somos, não existindo. Convém clarificar. Existir não é o mesmo que viver. Estar vivo, ser vivo não significa existir. Também, existe muita coisa que não é viva.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Potássio na água

O mais valioso perante a morte é 

Viver e estar em paz

Pois, depois de mortos, tanto faz.

Porquê a paz se a morte é descanso eterno?

A paz como equilíbrio,

Adaptação, sem excesso.

Não eternidade,

Não prolongamento,

Insustentável, indevido.

Não uma sonolência absurda

Mas, simples prudência,

Evitando o inferno,

E buscando o céu,

Na Terra dos homens.

Ainda que, esse céu, seja só por nós habitado e que, raramente,

Ou mesmo nunca, chegue a ser partilhado.

Há muito mais do que nós, em nós,

E cada jardim possui a sua geometria.

Alguns jardineiros tratam bem do seu quintal 

Outros, apenas sonham com o quintal alheio

Ainda outros ou são tolos ou desleixados

Mas todos os jardins têm flores

Mesmo aqueles em que as sementes não estão visíveis à superfície.

Todos os nossos jardins morrem de forma diferente, só muda o modo... 

O nosso ego aflito dilui-se como potássio na superfície ondulada da água

E, depois,  mais nada.

Fadigas e canseiras, 

Alegrias e brincadeiras

Jardins e jardineiros

Num ápice, tudo finda

E seremos nada.


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Quando der por mim...

Quando der por mim, estarei morto. A ignorância parece ser o combustível que incendeia o conhecimento. O que não sei, desafia-me ou, desafia o meu orgulho, a minha vaidade, a sede de ser importante, de não me reduzir ou resignar à pequenez. Pouco importa o que não sei, pois se, sobre tal, nada sei, nem sequer posso avaliar a sua importância. Não há a prioris do valor. E, pouco importa o que seria pois, nunca se poderá achar muito a descobrir uma ínfima parcela. Por tudo isso, enquanto entretido a lutar contra o excesso de luz e, também, de escuridão, quando der por mim já deverei estar morto pois, se não sei, como posso dar por mim ? Como posso dizer-me consciente ? E, se o posso, em que termos? Da realidade, a cada instante, captamos e processamos uma infinitésima fração. Como é que uma ínfima parcela da realidade pode ter noção sequer do seu todo? Conhece uma formiga todo o deserto do Saara que percorre ? Enfim!...Ínfimos, somos e seremos. Não estúpidos. Esses, são os que sabem sem saber. Os que sem saber imaginam que já sabem. A humildade não extingue o saber, pelo contrário, é o seu verdadeiro ponto de partida, o qual, se persistirmos para sempre nele, nesse ponto permaneceremos. Mais que isso, é veleidade. Menos,  é leviandade.  Quem chega a um ponto acrescenta um ponto. O contrário é ser-se nulo. Mas, quando dermos por isso, já teremos terminado o que nem sequer iniciámos!

segunda-feira, 15 de julho de 2024

A intimidade

Ela, surge sem aviso ou, fazendo-se anunciar, vai-se revelando aos pouquinhos sob a forma de rituais.  Diz-se, que aproxima seres. O meu ponto de vista é outro. Os humanos familiarizam-se por uma ou sob uma aparente proximidade. Digo, aparente, por que nunca jamais alguém vive ou viveu a vida dele através de outro. Nunca jamais alguém esteve dentro dos pensamentos de outrém. É essa a distância que nos torna próximos. Somos família mas, com muito pouca coisa própria (para além da natureza instintiva) em comum. Daí que, a intimidade, o intimismo que se possa estabelecer entre quaisquer dois ou mais sujeitos, seja sómente um acordo temporário, uma aparência bonita e, muitas vezes, sem qualquer consistente concretude. Não nos iludamos pois com as exibições e manifestações, talvez, muitas vezes exarcerbadas, quer de amor,  de companheirismo e/ou de amizade.
À moda Confuciana diria; o próximo oculta o distante.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Falta-lhes um dedo!

Se... Que mais ? Oh, homem desembucha! Mas, não há mais!
Perdemos-nos! Aonde estavam ? Não sabemos situar. Então, como sabem que se perderam ? É verdade, não sabemos.
Um robô costumava reabastecer-se a ele próprio e, após, realizar uma dança. A partir de certa altura deixou de realizar a dança. Por eficiência energética abandonou o ato inútil de dançar. Evoluiu. Excelente! Aprendeu. Magnífico! Só que... Desconsiderou todo o bem estar que a dança causaria em termos mentais a um ser humano consciente. E se para uma máquina sem emoções a lógica proposicional e do cálculo são suficientes, para um humano,não! Não são! Uma dança pode significar um novo equilíbrio psicológico, muito mais eficiente ou gratificante do que um cálculo de calorias ou energias perdidas ou ganhas. Um homem motivado, pode até pensar e trabalhar melhor mesmo que com uma fome tolerável. Um robô, por eficiência estupida, desconsidera esse gasto de energia "inútil". Claro, que a máquina não tem de ir ao psiquiatra. Mas, é precisamente por isso, que nunca será humana, nem sequer lhe chegará aos calcanhares! Por isso, não há que temer o HAL de 2001 Odisseia no Espaço. A mente, não é algo separado de um corpo. Não há nenhuma máquina que sequer se aproxime de perto da perfeição, competência e eficiência adaptativa de um ser humano. E, tudo isso, até um simples dedo encerra mais inteligência por milímetro quadrado do que qualquer máquina mecânica criada pelo homem. Desiludam-se os quasi fanáticos (ignorantes) da IA.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Considerar os intervalos

Contas-me as peripécias da tua história com um enorme entusiasmo e eu, cansado do teu monótono tagarelar digo-te que não estou interessado em ouvir. Pode ser o cúmulo da falta de empatia, ou até, talvez, inveja, por não ter tantas peripécias ou uma autobiografia interessante para te relatar. Contudo, incomoda-me ouvir-te. Peço-te o silêncio. Tu insistes. E eu, começo a ficar irritado, desconfortável. Se era para me conduzires a este estado, com a tua necessidade de interagir e de te relacionares comigo, então, tornou-se contraproducente.  Relacionar-me contigo não significa que seja permanente, contínuo, sem pausas. Há momentos em que as nossas disposições divergem. Não dá para viver num eterno abraço. Não dá para prolongar um beijo até ao infinito. Temos que considerar os intervalos.

Viver

A vida é o acto mais solitário que existe.

Um soldado caído, exclama, alvejaste-me, não pares, mata-me!

A vida é o próprio existir solitário em acto, acrescenta quem alvejou, é por isso que não te mato.

Prazer e sofrer são os únicos sentires do que é estar-se vivo.

A dor acorda e desperta para a maldita hora que se consome para a meta.

O gôzo emola e ruma ao consolo da bastança, efémera celebração asceta.

Talvez, um frequente oscilar temporário seja o único estado do ser-se vivo.

Mas, de que tudo isto interessa, após ter-se morrido ?

Interrogar é o coração de todo este ruído, imersão total nos sons que nos transportam ao destino.

Valeu a pena ter vivido ? À pena valeu, também, ela, termos fingido!

Não sei se reconheço

Não sei se me reconheço? Não sei se reconheço estes rostos, todos, na enfermidade... Gente comum, vulgar, cada um com seu percurso, sem nunca nos termos cruzado. Generalidades, inutilidades. Sofremos e nem há como evitar. Se a maldade da doença nos afectar, só resta Não sei se reconheço. Este equilíbrio entre as nossas aspirações, possibilidades, inevitabilidades perfaz o triângulo da nossa existência.  Com nada viemos e nada levamos. 

Inocência Perdida

Uma naja aspira as ínfimas particulas do teu odor, serpenteando a sua língua bifida, fitando-te, olhos nos olhos, antes de te dar a última mordidela, enquanto tu, jazes, inválido, de pernas partidas, debaixo de uma enorme laje de betão. É a tua última cena enquanto alma viva. É o terror! A tua consciência não te deixa sair de cena. Estás preso às tuas percepções, ao vício de um real construído, do qual não consegues escapar. Ah, malditos sentidos. Ah, incontrolávell cérebro. O terror, não é a morte, é antes, a última cena, ceia dos nefastos sentidos, cerebralmente reconstruídos, sem que, voluntariamente, consigas escapar à cena animada e colorida e, à escuridão do medo. Para que te serve uma consciência, um cérebro, os sentidos quando morres ? De que te serviram os alertas ? Inocência perdida,  consciência terrífica. É o preço da vida. Não controlamos o nosso cérebro.

A chuva cai

Chove, finalmente, e bem! Sem cântaros como diriam os antigos. Preocupamo-nos. É como escutar a chuva que cai ruidosa, chamando-nos a atenção. Atentos, defendemo-nos e pretendemos controlar o mundo que percepcionamos. No final, não levaremos nada connosco. Tanta noite mal dormida, tanto atropelo, tanta angústia para, afinal, nada. De que valeu termos sido este bichinho ? De que valeu, tudo em que acreditámos, ciência, conhecimento, deus, etc ? Como não conseguimos parar este monstro chamada consciência que nos põe a pensar como se a vida fosse apenas isso ? Que querem os meus átomos saber dos meus troféus ? O que eles acrescentam aos meus átomos ? Por que se têm de mover ? Por que não conseguimos deter o pensamento ?

Há caminho

Quem manda nesse lugar que desconheço, chamado céu, não sei. Sei que os que partem da vida, com ou sem barqueiro, nunca mais regressam. Se valeu ou não valeu, cabe aos vivos reflectir. Os que partiram, já nada reflectem. Na verdade, pouco importa, até mesmo, as nossas crenças. Vivêmos acordados ? Adormecidos? Anestesiados ? Não saberemos nunca dar a resposta. E fomos livres ? Quem sabe o que isso é ? E se não o fomos, o que isso alterou ? Caímos de uma relação sexual, aos trambolhões, fomos incubados num útero de quem nem sabíamos quem era, acabámos lançados num mundo semi-preparado, dizer feito, seria o maior disparate, onde, como pequenas sementes nos desenvolvemos ou atrofiámos. A vida, é esta embrulhada total, sem controle algum, ou, talvez, numa ínfima parte, a que nos permitirá sempre dizer, que foi o nosso percurso, a nossa presença, a nossa estadia, a nossa e apenas nossa vida. O que ganhámos por ela ser nossa ? A vida não é um negócio. É erro ver nessa perspectiva. Não viémos para ganhar ou perder, viémos para ter ambos. Felizmente, o humano consegue emular-se acima da mera fera, do mero interesse, da mera circunstância. Estar-se vivo é muito mais do que alguma razão possa descrever ou definir, uma fé possa apostar e, sobretudo, permanecer, temporariamente, num jogo do qual, nem nós fomos os criadores das regras, nem os totais fabricantes das jogadas, previstas, segundo os cálculos para esse jogo. Portanto, também, não fomos teleguiados e, muitos acidentes, nos revelaram, a nossa verdadeira essencialidade! Não digo, que esse, seja o caminho. Há caminho e, não há caminho! Não, não é um paradoxo! Há caminho por fazer, não caminho já feito. Simples, não é ? Riso, raso, delirante, profícuo. Há, caminho e é bastante!

Sem um quê do quê

Não tolero, tolerar. E daí ? Respeito é necessário. Respeito, parece implicar um conhecimento daquilo ou de quem se respeita ou se dá ao respeito. Tolerar, parece ser, simplesmente, assentir em algo de que não se tem conhecimento suficiente. De qualquer modo, cabe questionar, se alguma vez teremos conhecimento suficiente ? Sem nos radicarmos na ignorância, diremos que, tolerar é vaidade. Não se tolera, aceita-se ou não. Tolerar, parece até, sugerir uma qualquer forma de aceitação contrariada, a custo, com dificuldade, sem vontade ou disposição favoráveis, mas, no entanto, aceitar, cheio de reservas mentais. A realidade não é a preto e branco. Tolerar o intolerável ? Não! Alinhar com carrascos ou vítimas, sem conhecer os contornos da sua legitimidade, parece obtuso, abstruso. Conviver, coexistir, cohabitar, sem perder a face, ou será antes o ego ? Eco e reflexo, identitários. Ser idêntico, compacto, inquebrável...Assim, se celebra o vácuo! Um infinito labirinto sem forma. A poesia é que nos doma, a poesia é que nos transforma.

A narrativa é o narrador

Não se amam os mortos mas, sim, simulacros, fantasmas, conceptos que entram em loop, voltados sobre si próprios, moldados pelo vazio, essa espécie de buraco negro que leva a uma dobragem circular. Amar é sentimento, apenas, dos vivos. Para aquele que sabe que a razão não é tudo, não conhece tudo, não domina tudo e, ainda assim, permanece-lhe fiel,  nada há, para além dela, apesar da sua exíguidade. Outros, haverão, para quem há muito mais do que a razão. Foi a esperança que esgravatou o ouro. Mas haverá algum tesouro escondido na morte, para além de um mero conto de fadas ? Por tanto se luta, na vida, para obter e manter e, afinal, nada se leva para a morte. A amputação moral dos que partem faz parte da vida. Os mortos foram inteirinhos ou às partes para o outro mundo, aquele do ponto final. Crer ou não crer nunca será a questão. Cada qual escolhe o percurso da sua alienação. Ninguém tem amor, fé ou razão, mas, enquanto vivos, experimentamos algo e construimos histórias sobre isso. A narrativa somos nós, desde o prelúdio até ao terminus.Nem os loucos perdem a sua identidade única. Todos vivemos a nossa própria biografia. Dir-se-ia, que a habitamos e forjamos linguagems para a expressar. Em suma, seja crença ou razão ou, ainda, até, ambas, haverá sempre um relato, um linguarejar sobre os actos, sejam eles cônscios ou não. Cada instante é toldado pelo que chamamos consciente e inconsciente em viagem pelo mundo. O mundo é uma miragem do discurso e,  ao mesmo tempo, uma passagem para o fim do mundo.

O Amor diz-se vivo!

Às vezes

O amor não se vê

Não se sente

Não está próximo

Nem presente

Mas, está vivo, simplesmente,

Recolhido,

Consistente,

Disponível,

Existente,

Em espera

Para se manifestar

Se consumir

De se realizar

Junto, perto, livre

Chegando

Não estando

Estando

Aguardando

Proliferando

Distante, escondido

Sem qualquer aparato

Qualquer exibicionismo

Simples

Comedido

Discreto

Honrado

Doado!

A Análise, o que é? Um detalhe. Seguido da capacidade de falsificar!

Analisar, não é compreender. A compreensão engloba muitas possíveis análises e, é um processo dinâmico em transformação, tal como as análises mas, distinta delas. A compreensão muda com as análises e outros fatores. Às anàlises que se mantêm juntam-se outras novas ou regeneradas, que alteram toda a compreensão ao alterarem significativamente toda a disposição (de dispositivo ou modo) mental. Temos análises, restritas, difusas, abrangentes, exaustivas, figurativas, instantâneas, comparativas,etc. Todas elas, são detalhes, por muito que detalhadas. Como se diz reestrita ? Análise de 3 ou 4 fatores, como exemplo. É curto, precário, demasiado compacto, ínfimo, acrescentaria. Análise difusa, pode ser extensa ou intensa mas, desordenada no seu constructo ou na incoerência dos seus resultados que, podendo ser verdadeiros, apresentarão um aspecto inconclusivo por não se interrelacionarem ou articularem  coerentemente entre si. Análise abrangente ? Qual é a amostra à partida ? Já se conhece a cardinalidade do tópico a estudar ? É um, o tópico mas, podem ser múltiplas as abordagens. Abrangente, pretende ser geral,  maioritário, quase completo, quase exaustivo. Quais são então as capacidades empregues e as limitações ? Qual o critério que define o máximo e o mínimo de factores de análise ? O que indica a exaustão ? Exauriram-se todas as possibilidades, perspectivas, vertentes ou, exauriu-se ou exauriram-se a ou as capacidade(s) do(s) analista(s) ? Em todos os casos, qualquer análise, não passa de um detalhe! Toda a relevância depende da importância desse detalhe, numa compreensão mais vasta de todos os detalhes. Análise comparativa ? A pertinência ou congruência e até mesmo, a incongruência,do que se vai comparar é fundamental. Existem, mais uma vez múltiplas possibilidades. Comparando, quer pela positiva como pela negativa, nunca há lugar a um esgotamento das relações possíveis ou impossíveis de estabelecer. Lembrei, a análise combinatória, que em matemática está demonstrada mas, que, na sua aplicação prática, compromete toda a completude de uma análise da realidade. Podem haver combinações ocultas ou desconhecidas ? Sim. Podemos nem sequer estar a referir-nos às disposições, não enunciáveis mas, a disposições completamente desconhecidas. Óbvio, a suspeita de tais disposições não as torna automaticamente verdadeiras ou sequer existentes, apesar de, equacionáveis. Análises instantâneas ou se prendem com o instante ou, com a superficialidade da análise (se é que é atribuível, alguma superfície a uma análise que não seja geométrica?). Instantânea é fracionária, logarítmica. Em suma, analisar é um instrumento altamente complexo, uma ferramenta com múltiplos algoritmos que, só por si não determinam a dimensão do objecto-problema, a sua disposição, a adequação da conclusão mas, tornam parametrizável a ação e o esforço conduzido,  praticado, executado para extraír informacão pertinente à compreensão humana dedicada ao entendimento de um circunstancial ou determinado objecto. Mais, lembrei, da análise argumentativa.  Argumentos e contra argumentos, disputa e conclusão. Sic et non. Todos sabemos o que é um argumento, uma tese e as premissas, as outras teses que sustentam a tese conclusão. Há argumentos válidos, fortes, sólidos, cogentes. Não irei explicar. A razão, capacidade inteligente humana conhece-os. Cria-se uma teia deles, encadeada, coerente. Pretende-se dar uma explicação com base numa demonstrationem argumenti. O auto explicável e o auto compreensível são assim tão evidentes ?O  que pode constituir de facto e de juris uma análise ? 

sábado, 18 de maio de 2024

O MAR








Se há Deus há Mar

Pois, sem maré não há vida

Não há ir ou voltar

Não há dor nem ferida

Nem histórias para contar.

A alma entretida,

Perdida, embriagada

Sentindo o indefinido

Com rosto estarrecido

Ama

Vive

Realiza

Morre

Permite-se seguir o rumo

Escutar as ondas do fundo

Arribar às fronteiras do mundo

Entre névoas e fumo

Num uníssono prumo

Em harmonia universal.

Deus não é bem nem mal

Apenas silêncio radical

Evidente e ausente

Presente e oculto

Num amplexo paradoxal.

Cheira a Mar. 

Cheira aos filhos da Terra

A uma gesta rudimentar

Sedimento de homens

Apóstrofes de deus.

Andróginas criaturas,

Que nem são Afrodite nem Zeus!

Não há vida sem Lar

Nem vida sem Mar

Não há sopro sem Ar

Nem vida, sem respirar.


Children of the Sun

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Mil anos sem mestria


Há mil anos disse, a ordem é aleatória. Parece uma contradição nos termos mas, temos de ser capazes de nos desvincularmos das nossas crenças. Na verdade, encontraremos ordem em tudo porque, a busca de sentido, a tal nos condiciona. Ter sentido, significa, controlar a lógica, conhecê-la. Se algo não a tiver, cria-se uma, adequada. Funciona, também assim, a ciência. A forja da ordem não pára. Mas, serão ordens sobrepostas, correlacionadas e correlativas ou outras ? Cabe na cabeça de alguém haver uma só lógica ? Admissível não significa a certidão de óbito da falsidade ou a transformação criativa da ordem do imaginário, que permite inventar novos mundos e acrescentá-los ao mundo que, nem em tudo, parece ser tangível na realidade. Deus quer, o homem sonha e ninguém pensa. Eis o que de certo o Poeta diz, não dizendo, apenas referindo, que a obra nasce. Pois é. Não pensa. Nada pensa. Só havendo ordem haverá sentido. E se não houver ordem, continuará havendo sentido ? A Natureza mata. Quem crê num super ser que os acode, desengane-se! Essa é a ordem que se sobrepõe à realidade mas, que, na verdade, se eclipsa de fundamento. Um furacão mata, quer um crente, um descrente, um velho, um bebé, uma mulher, um burro, seja quem for...Foi a mão sábia de deus! Será, essa a ordem ? Ou simplesmente queremos que essa seja a ordem das coisas para justificar a nossa dor e as nossas perdas e, conferir-lhes sentido ? Para mim, a ordem está no que acontece. Tenhamos nós interferência ou não, controlo ou não, haja sentido ou sentido nenhum. Não há uma ordem para além da ordem das coisas, do mundo, mesmo que tal, nos parece obscuro, incompreensível, desconhecido, vazio de sentido. Felizmente, que não vivemos em plenitude e que, a ressurreição é um sonho humano, senão, nunca acordaríamos e, acordar, despertar não significa uma manhã de bonomia. Haja o que houver...Tempestade, dor, tristeza, guerra, melancolia ou bonança, prazer, alegria, paz e sensaboria...
A ordem é do mundo, não da ordem da nossa construção racional. Matar inocentes, não é de fora do mundo. É o mundo e do mundo. Tem sentido ? Ordem tem. Sentido, não sei responder. Nem hoje, nem espero que nunca!

domingo, 21 de abril de 2024

Oratio de um ateu

Será a sabedoria saber, não estar aqui, quando todos os holofotes apontariam para a nossa presença ? Acredito de que ainda há mensagens de Amor de que ainda há quem amar e quem nos ame. Inferno, céu e limbo, são já aqui. As futilidades em que apostámos valeram apenas pelo tempo que não soubemos usar de outro modo. No fim, nada sobra.  A memória apenas permanece nos vivos por mais algum tempo. Nunca fomos ou seremos grandes, excepto, na vaidade e na ignorância. Sim, Amo a minha mulher, os meus filhos e os meus irmãos. Mas, amar é tão difícil! Há quem pense que tudo se resume a oferecer uma rosa no dia mundial dos namorados... É preciso Amar muito para nos desapegarmos. É preciso Amar muito para se ser acompanhante e não deixar ninguém dos que nos são próximos desamparados, embora só nós possamos viver a nossa própria queda, solitários e desamparados. Nas grandes decisões da vida, estamos, completamente sózinhos. Servem estes momentos para nos confrontar com a verdade que trazemos em nós soterrada por desvarios e poeira acumulada dos destroços que provocamos. Deus é talvez o nosso superego que fugiu para o céu...E foi-se embora mesmo. Creio que nunca voltará. Destapámos o tacho e atirámos a tampa sob a forma de disco voador para o espaço. Ficámos, iludidamente, senhores da vida e entregues apenas a nós próprios, como se tivéssemos olhos de ver e ouvidos de ouvir e pior, algo de bom nos nossos corações para ofertar.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Em suspenso

Levamos, levei, muitas vezes, com demasiada leveza, a ideia da morte. Daquele momento, em que, não nos despedimos mas, de vez, partimos.
Lembro ,outros, que já partiram. Quanto ficou para eles dizerem e fazerem? Mas, não houve mais tempo. O que quereriam ou teriam querido comunicar que não lhes foi possível ? Fazer ? Senti de perto a morte aproximar-se e, pensei neles, evocando a solidão que é estar-se nesse momento final. Sim, somos só nós. Nada a demonstrar. Toda a vaidade esvai-se. De que adianta deixar-se mais ou menos lembranças ? Não iremos estar por aqui, para ouvir ou ver, quem falará de nós. Nada do que fizémos,  criámos, vivêmos, terá relevância para nós que cessámos de existir. Claro, é bem melhor ter vivido em tentativa constante de acordo connosco. Afinal, fomos alguém, aquele que nos fomos imaginando mas, agora, até esse pensamento perde força. Toda a vaidade é vã. Tranquilo ou insaciado que importa ? A morte é implacável. Partir com sonhos de outro mundo, daí se dizer partir, viajar para outro lugar, é espúrio. Não há certeza alguma de que o sonho se concretize. Dirão, há a esperança. Sim, haverá mais essa vaidade, essa confiança num futuro, sobre algo, que nunca se passou, nem qualquer garantia que se passará. E se nada disso se realizar, de que serviu ter sonhado essa última vez ? Que vantagem isso trouxe ?  Acaba-se sempre por nunca se concluir. Concluir o quê ? As nossas leis, não funcionam, do outro lado, a partir do primeiro traço do além. Dói deixar aqueles que amamos. Nunca mais nos encontraremos. É um fim duplo da história, para todas as biografias envolvidas. Aquelas biografias que ficam, ganhando uma alínea e, também, para aquelas, para quem já não terá mais linhas. Só um ponto final. Um regresso ao silêncio de onde nunca se partiu. Sim, nascer vem do silêncio. Morrer, é reentrar no silêncio mas, num silêncio absoluto, num movimento em eterna pausa. O universo recicla-se mas, não se regenera. São duas encostas diferentes da vida. Caminha-se para o nulo.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

A tecnologia não civiliza o homem!


A tecnologia é e sempre foi um instrumento precioso no progresso das sociedades. No entanto, a tecnologia, embora possa facilitar algum tipo de aprendizagens, mais focadas na formação profissional, tem falhado redondamente em contribuir para a civilidade, humanismo, respeitosidade e engrandecimento das culturas e sociedades ao longo da História. A mera produção de riqueza material através da evolução tecnológica promoveu maiores desigualdades, disputas por riqueza, desenraizamentos culturais, evanescência das tradições, excentricidades e individualismos, isto, para não contemplar, o exponenciar de lutas fraticidas pelo poder, queimas em fogueiras, guerras mortíferas e quase constantes, etc. 
Faça-se a pergunta, quantos dias de paz teve o planeta desde que há registos históricos ?
Por isso, penso que não estamos mais civilizados e respeitosos, nem no trato com o outro, nem no respeito pela natureza. Daí decorre, também,  a actual,  tremendamente aflita preocupação com o clima e com o respeito por grupos sociais menos representativos das diferentes sociedades e culturas pelos mais diversos quadrantes políticos. Se tudo estivesse melhor, mais civilizado, não haveria esta actual necessidade premente.
A natureza e os factos históricos falam por si. 
Confiar na tecnologia como panaceia da construção de um novo humanismo e de novas formas civilizacionais é uma falácia monumental. 
A tecnologia não civiliza o homem!
Se há algo de positivo que se pode atribuir à tecnologia, tal, deve-se ao Homem que a criou, parcialmente a civilizou e a adaptou e empregou para certos fins eticamente positivos.
Se o Homem não se civilizar a si mesmo, não há nenhuma tecnologia que o faça. O mesmo é dizer-se, se o Homem não se revolucionar interiormente e salvar a si mesmo, nenhuma tecnologia o salvará da sua auto destruição.
Mas, como salvar-se a si mesmo se o Homem não se conhecer a si mesmo ? Não haverá nada para salvar. Também não haverá nenhuma revolução interior a fazer.
Haverá a crença falaciosa e fatídica de que a tecnologia resolverá todos os problemas, tal como, no passado, orar aos deuses servia de panaceia para alienar os espíritos e lhes infundir alguma esperança. Sim, a esperança é fundamental mas, é diferente de ficar à espera. E, como vimos, alienarmo-nos à tecnologia não é caminho algum, mas sim, a tentativa apenas simbólica de regressar ao ventre da mãe, de recolher à concha, de procurar mentalmente uma desculpa que confira proteção contra o peso e crueza da realidade, de negar o que não convém ver, de, em suma, nos demitirmos das nossas responsabilidades como seres adultos adoptando verdadeiros comportamentos infantis. 




Eu gosto

Uma sociedade que, não é capaz de socializar e conviver, pacificamente, sem polícia, não está apta para sobreviver, nem para ser livre.
A desculpa é sempre, são só alguns. Mas, a verdade é, que os muito poucos, perturbam mais do que, o vasto rebanho que os tolera, nas suas irrupções de violência gratuita.
Fala-se mais em futebol do que em educação ou ensinança. Saber estar, saber respeitar, saber interagir com correção, simpatia, empatia e retidão está fora dos interesses gerais da comunidade que, considera tudo isso, como mais um adquirido, portanto, algo não  muito valorizável, uma vez que passa a ser um "dejá vú".
A liberdade resume-se ao "eu gosto"!

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Entre-Rios


Há toda uma vida, de emoções, sentimentos, pensamentos, intenções, considerações que nos escapam a cada segundo que passa, para além ou aquém, sempre, desta vida que, a cada instante, concretiza-se. Só, a música e a poesia, parecem conseguir vislumbrar um pouco desse imenso universo, em movimento, obliterado. É, como se houvesse um negativo de nós, que nos escapa. Não, não é inconsciente. Por vezes, apesar da sua fugacidade, é até bem consciente e permanece, fraccionário, por segundos. Para onde corre esse outro rio de nós ?  E nós, se calhar, não passamos de uma pena de pássaro flutuando sobre as águas ao sabor da corrente... Quiçá ? E é, como se, houvesse realmente, um universo próximo, para onde a nossa posição saltaria, quânticamente, num ápice e, outra biografia, seria então, construída. Uma espécie do universo do não, em que, nunca seremos decisores, nem teremos arbítrio. Universo do não porque se perdeu oués fechou a janela de oportunidade numa fração de segundo. Não, um universo de negatividade. É quase como se fossemos convocados para um salto, mas a estrada já estivesse debaixo dos nossos pés, forçando o caminhante ao caminho. Parecem faíscas determinantes mas, deixam antever um outro mundo, neste. Uma fissura, não determinista, um ponto de fuga. Imagino, que, tal como uma maré, esse fluxo que nos sobrevoa a uma velocidade estonteante, também, reflua, minando a linearidade do continuum vivendum, numa espécie de preenchimento silencioso, a presença da ausência, a pausa na melodia que confere encanto ao desencanto. Ying e Yang!

Ad lacrimam





Pediram-me para chorar

Derramei lágrimas de pó

Nada pude acrescentar

Toda a vida é ser-se só


A solidão, não é sofrimento

Mas, sim, chama ardente

Lembrança do existente

Vivido a sós, por dentro.


A vida é o que é

Movimento misterioso

Ninguém compreende o que é

Mesmo sendo curioso


Acordo com a esperança

Intervalo que não se alcança

Meta que é uma causa

Forma feliz de pausa







In tempore mortis



Quando eu morrer, espero que ninguém chore por mim. É simples, concluí. A vida é curta e efémera e, segundo o que sei, embora ela, mereça e deva ser bem vivida, acaba por não ter significado algum. Também é simples. Se vos perguntarem qual o seu significado, certamente esboçareis uma resposta mas, jamais alguém saberá verdadeiramente responder a essa questão! Tudo termina para o morto. Tudo continua para os vivos. Procurar sentidos onde não os há, vasculhando pelo deserto, ao longo dos tempos, faz-nos ver que somos imensamente resilientes mas,  de modo algum imortais. Num ápice décadas de anos de vida se desvanecem, perdendo qualquer significado. Não há mais forma de ancorar o navio. Os nossos verdadeiros restos mortais são memórias. Temporariamente perpetuam-nos, os que nos lembram. Também eles se finarão e com eles, a memória que guardaram. Lembrem-se, se tiverem saudades do que essa memórias evocam que, também, a esperança findou. Não há regresso, ressurreição, vida eterna. Como sei isso ? Já decorreram milhares de milhões de anos sem qualquer prova de que alguém tenha ressuscitado ou  voltado de qualquer outra forma de vida para o poder contar. Não há, pois, qualquer evidência factual que justifique essa crença. Dito isto, antes de ter morrido, ficarei feliz se, após a minha morte, apagarem-me das vossas mentes o mais rápido possível. Enterrem-me, também, nas vossas memórias, sigam em frente. Não tereis nenhum ganho em relembrar-me. Continuarei a ter múltiplas faces, favoráveis e desfavoráveis. Tanto faz. Por mais homenagens ou pragas que me rogueis, não regressarei. Parti de vez. Se assim, não fosse, para que existiria a palavra fim ?